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Adelina Paula Pinto e Raquel Varela debatem "Abril no feminino"

O “Cidadanias” é uma organização do Núcleo de Estudos 25 de Abril e trouxe ao auditório da ESCT, a 5 de junho, Adelina Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, e a historiadora, investigadora e professora, Raquel Varela.

Coube a Adelina Pinto a primeira intervenção que começou por evocar o livro editado pelo Cineclube de Guimarães, “Daqui houve resistência”, para realçar que o 25 de Abril “não foi feito pelo feminismo”: o livro relata 25 exemplos de resistência e desses somente três eram mulheres. Recordou as palavras de João de Meira quando dizia que, antes do 25 de Abril, “as mulheres passavam do jugo dos pais para o jugo dos maridos”. Perpassou a evolução da mulher até chegar aos momentos atuais, salientando que, em termos legislativos, “está tudo na lei, mas sabemos que não é verdade a realidade de igualdade de género”, salientando ainda que na educação, os próprios manuais escolares, por vezes, ainda são reprodutores da desigualdade. Finalizando a primeira intervenção, afirmou que as mulheres foram as mais sacrificadas com a pandemia.

Raquel Varela, perante um público maioritariamente docente, começou por avançar que a “escola deixou de ser um fator de mobilidade social” e que o ensino está a adequar-se ao trabalho português, “desqualificado e de mão-de-obra barata; quando os qualificamos, os jovens não têm emprego e são convidados a emigrar”, acrescentando que a escola “abdicou de ensinar conhecimento”. No fundo, Raquel Varela dá a imagem da escola como algo que concentra os problemas do capitalismo, num país que passa por “uma desigualdade social extrema e onde temos mais mulheres nas diversas áreas, mas uma minoria nos órgãos de decisão”.

O debate abriu com uma questão colocada por uma aluna da escola anfitriã, Ana Ribeiro, sobre se o facto de ser mulher terá prejudicado as duas oradoras no seu percurso de vida. Adelina Pinto avançou que, enquanto desempenhou as funções de docente, nunca foi afetada por ser mulher, “mas na vida política, possivelmente”, acrescentou a vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães.

Por sua vez, Raquel Varela afirmou que teve mais problemas por se afirmar como marxista neste retângulo à beira mar, que é o nosso país.

Um elemento do público, Armanda Gomes,  questionou o papel da escola como agente de transformação e o facto de “concentrar os problemas do capitalismo”, como referiu Raquel Varela. A professora do ISEC foi referindo que a questão é mesmo como “sair deste nó górdio”, acrescentando que “os problemas da sociedade não se resolvem na escola, mas também se resolvem na escola”, tendo a primeira manifestação de anuência dos presentes quando acrescentou que “daqui a algum tempo, ninguém dará aulas e os professores passarão o tempo a entreter os alunos”. Mais adiante, deixou algumas frases que ecoaram na sala, como “a função da escola é acolher alunos diferentes à entrada, mas iguais na saída”, “deixamos de centrar a escola nos docentes”, “os professores é que se adaptam aos alunos” e, relativamente ao ensino superior, “a cereja no topo do bolo foi a implementação do processo de Bolonha nas universidades”.

Adelina Pinto centrou-se, na sua resposta, na questão das desigualdades sociais que se vivem nas escolas e as intervenções que o executivo a que pertence vai implementando nas escolas do concelho. Reforçou a ideia de que as escolas têm de ser “um espaço de aprendizagem”, sempre com um forte espírito colaborativo dos docentes.

Lucinda Palhares, diretora do Centro de Formação Francisco de Holanda, questionou se a escola estaria em colapsom salientando o que se foi perdendo, principalmente em termos de autonomia nos últimos anos.

Esta intervenção foi o mote para Raquel Varela ter a sua intervenção mais incisiva e crítica para com as políticas seguidas pelo Ministério da Educação nas últimas décadas. Elencou quatro áreas a necessitarem de uma intervenção urgente por parte da tutela.

A primeira passa pelo fim do atual modelo de avaliação docente: “Criou uma demasiada desconfiança tal entre os docentes” salientando, ainda, “o sofrimento ético de quem avalia”. Defendeu o regresso da gestão democrática, com a eleição direta de quem dirige as escolas. O terceiro ponto, o currículo, associou ao quarto aspeto, a flexibilização curricular. Aqui Raquel Varela começou por referir que “não existe autonomia pedagógica nas escolas”, defendendo algo que perpassou ao longo das suas intervenções, “o currículo deve potencializar o que temos de melhor do conhecimento científico”. Acrescentou que todos os envolvidos nas escolas devem fazer com que os alunos se apaixonem pelo conhecimento.

Adelina Pinto aproveitou a questão colocada e reforçada pelo moderador do debate, Alfredo Oliveira, para falar um pouco da municipalização em curso. Referiu que, a partir de 2022, a intervenção do município se centrará mais no âmbito da gestão de espaços e de algumas verbas, “não tendo intervenção ou competências na definição do currículo”. Reconheceu que a autonomia das escolas e dos professores tem vindo a ser perdida ao longo dos tempos.

Esta 9.ª edição do “Cidadanias” teve ainda duas questões de mais duas alunas (Fátima Alexandra e Sofia Barros), antes de Amadeu Faria, do Núcleo de Estudos 25 de Abril, dar por encerrada a sessão, tendo feito uma retrospetiva da atividade desenvolvida por este grupo informal de intervenção cívica.

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